Seria uma ótima solução natural e segura: estudos apontam que algumas flores silvestres são capazes de diminuir pragas agrícolas e assim, consequentemente, diminuir o uso de pesticidas
A Inglaterra e a Suíça estão testando o potencial das faixas de flores silvestres dentro dos campos de cultivo em atrair os as pragas e reduzir o uso de pesticidas.
Na Inglaterra, foram plantadas estas faixas em 15 explorações agrícolas de grandes dimensões, as quais serão analisadas e monitorizadas nos próximos cinco anos, num teste coordenado pelo Centro para a Ecologia e Hidrologia (CEH, na sigla em inglês).
As flores que foram plantadas são: malmequer-bravo, trevo-violeta, Centaurea nigra e a cenoura-brava.
Outros estudos investigativos já haviam mostrado que a plantação de flores silvestres nas margens dos campos é capaz de atrair insetos – como as moscas-das-flores, as vespas parasitoides e os escaravelhos terrestres – e desta forma, reduz por consequência as populações das pragas nas plantações.
A estratégia é plantar as faixas de flores silvestres ao redor dos campos, pois assim as pragas naturais não conseguirão alcançar o centro das grandes explorações agrícolas.
“Se pensarmos no tamanho de um [escaravelho], é um grande caminho até ao centro de um campo”, afirmou o professor Richard Pywell, do CEH. Os primeiros testes do professor mostraram que as faixas a 100 metros de distância podem bloquear os pulgões e outras pragas ao longo de todo o campo.
O novo teste utiliza faixas de seis metros de largura, ocupando apenas 2% da área total do campo, e serão acompanhadas ao longo de um ciclo de rotação completo, desde o trigo de inverno, passando pela colza e pela cevada de primavera.
Na Suíça, os testes estão sendo realizados usando plantas e flores como a centáurea, os coentros, o trigo-sarraceno, as papoilas e o aneto.
Richard Pywell, autor de um estudo que confirmou que os pesticidas neonicotinóides prejudicam as espécies de abelhas, por exemplo e fala sobre a possibilidade de um controle de pragas natural. “Isso seria o ideal – que nunca precisássemos de pulverizar [os campos].”
Há cada vez mais estudos alertando sobre os perigos da utilização de pesticidas. No ano de 2017, o conselheiro científico do governo britânico, Ian Boyd, afirmou que a ideia de que é seguro usarem-se pesticidas em quantidades industriais nas paisagens é errada. Além disso, ainda em 2017, um relatório da ONU declarou que a ideia de que os pesticidas são necessários para alimentar a crescente população mundial é inconsistente, acusando os pesticidas de terem “impactos catastróficos no ambiente e na saúde humana” e os seus fabricantes de “negarem sistematicamente” os danos causados pelos seus produtos.
“Existe, sem dúvida, necessidade de se reduzir a utilização de pesticidas – isso é certo”, afirmou Bill Parker, diretor de investigação do Agriculture and Horticulture Development Board, destacando que é essencial uma “enorme mudança cultural” na agricultura, na qual se usam pesticidas.
“A maioria do aconselhamento sobre proteção de culturas prestado no Reino Unido provém de agrónomos com ligações a empresas que lucram com a venda de pesticidas”, contou.
“Não me parece que a principal preocupação [destas empresas] seja reduzir a quantidade de pesticidas usados”, afirmou Nicolas Munier-Jolain, do Instituto Nacional para a Investigação Agrícola de França.