Assim como em outros lugares, os abrigos também passam por dificuldades oriundas da quantidade de crianças e adolescentes amparadas no mesmo espaço, nessa época de coronavírus. Na tentativa de desafogar esses locais, juízes tem liberado crianças para ficarem nas casas de possíveis pais adotivos ou de madrinhas e padrinhos durante a quarentena.
Maria Aparecida Melges, de 58 anos, é educadora e madrinha de Kayky, 10 anos. Quando o vírus começou a se espalhar, perguntaram se ela aceitaria ficar com o garoto durante toda a quarentena, visto que o menino estava no grupo de risco por ter asma.
“ Se eu não aceitasse, iríamos ficar sem poder nos ver. Aí eu perguntei se ele queria e ele disse que sim”, disse a educadora. Desde então, Kayky tem se comportado junto da madrinha e se sentido aliviado de estar protegido do vírus. “Outro dia entrei no quarto e ele estava rezando: ‘obrigada, meu Deus, por eu estar aqui. Estou guardado do coronavírus’” diz Maria.
Além de madrinhas e padrinhos, os futuros pais adotivos que estavam em fase de aproximação tiveram seu processo agilizado.
“Quanto menos crianças no lar [centro de acolhimento], menor a probabilidade de contaminação”, explica o magistrado Iberê Dias, Juiz da Vara da Infância de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo.
Foi o caso do casal Veridiana e Maurici Koentopp. Os dois moram em Curitiba e esperavam pela adoção desde janeiro de 2017. “Com a quarentena, tudo foi resolvido online, fizemos reunião por videoconferência e conhecemos nosso filho de seis anos no dia 30 de março. Ele já deve vir para casa definitivamente na semana que vem”, conta Veridiana, feliz.
No entanto, esse tipo de ação não deve ser feita em massa, segundo o juiz Dias. “Temos que ouvir a criança, se ela quer. Também dependemos de embasamento dos profissionais, de quais casos têm chance de dar certo”. O problema nessa questão é que, ao acelerar o processo de adoção, aumenta o risco da adoção dar errado e a criança acabar sendo devolvida para o abrigo. Tudo que ninguém gostaria que acontecesse.
ADOÇÕES DEFINITIVAS CAEM, NO ENTANTO
Os processos para aqueles que já estavam em momento de adaptação tem sido acelerado, no entanto as adoções definitivas vem caindo no país. Em janeiro, foram iniciados 653 processos de adoção, em fevereiro o número foi reduzido para 593 e, em março, para 475. A média de tempo que leva para os processos serem concluídos é de 8 meses.
De acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, há 34.566 brasileiros com idade entre zero e 18 anos acolhidos no país, em uma rede com 4.279 unidades.