Em uma entrevista para a rádio Catve, Mario Sergio Cortella fala sobre a covardia dos pais na educação dos filhos e o impacto disso na escolarização dessas crianças.
Leia abaixo a transcrição da fala de Cortella.
“Em certo debate, um pai me perguntou o seguinte: “Professor, o que a família pode fazer para ajudar a escola na educação dos nossos filhos?”. Eu respondi: “Há uma inversão na sua questão. Não é a família que ajuda a escola na educação dos próprios filhos, é o contrário, é a escola que ajuda a família na educação de seus filhos através da escolarização. Você tem um ou dois filhos por praticamente 24 horas por dia, enquanto nós, professores, dispomos de quatro horas diárias com um conjunto de trinta ou quarenta crianças. Se você tem dificuldade para educar duas crianças, imagine se nós vamos conseguir substituir o papel de educação que é da família!”.
A tarefa de educação dos filhos é, primeiramente, da família e, em segundo lugar, do Poder Público. Portanto, se a família não cumpre o que ela precisa cumprir, a escola também não conseguirá. Mas é preciso haver uma parceria da escola com as famílias, pois às vezes é preciso formar uma parcela dos pais que está perdida e que vive uma situação de submissão em relação aos filhos. Por exemplo, quando eu era menino, eu ia ao restaurante com meus pais, e meu pai dizia: “Mário, sente-se”. Hoje, os pais costumam dizer: “Filhinho, onde você quer sentar? O que você quer comer?”. Esses pais, em nome do carinho, oferecem aos filhos algo que os deseduca.
Eu sou avesso a espancamentos, mas não avesso a uma educação firme. Ser firme está na fala e na autoridade. Há uma diferença significativa entre dizer a um filho de dez anos “Sente-se” e “Onde você quer se sentar?”, pois essa última frase, por mais que pareça carinhosa, é acovardada. Essas crianças são criadas em famílias que não têm autoridade sobre elas, então tais crianças dormem na hora que querem, comem o que desejam, veem o programa de TV ou de rádio que querem etc. Onde essas crianças vão encontrar um obstáculo a essa falta de limite? Na escola. Lá, quando o professor solicita que essas crianças cumpram seus deveres, como pegar o material, fazer a tarefa, guardar o celular e jogar o chiclete fora, elas podem até reagir de forma agressiva com o professor. Nunca houve tantos casos de violência de aluno contra o professor como atualmente. Por quê? Porque esse professor, muitas vezes, é o primeiro adulto, no dia do aluno, que procura exercer autoridade sobre ele. E essa autoridade não é autoritarismo, é a responsabilidade com o mando que deve ser exercida.”
Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho da entrevista de Mário Sérgio Cortella, feita pelos entrevistadores rge Guirado, Luiz Nardelli e Sérgio Ricardo, no programa EPC da rádio Catve 91,7 FM (Cascavel).
Mario Sergio Cortella, nascido em Londrina/PR em 05/03/1954, filósofo e escritor, com Mestrado e Doutorado em Educação, professor-titular da PUC-SP, na qual atuou por 35 anos.
É autor de diversos livros nas áreas de educação, filosofia, teologia e motivação e carreira.
FONTE provocacoesfilosoficas