Um dado do estudo ‘Ending Violence in Childhood: Global Report 2017’. Identificou que 67% das crianças da América do Sul e do Caribe, com idades entre 1 e 14 anos, já sofreram punições corporais. Esse é um número bastante elevado, se você parar pra pensar.
Mas e no Brasil? No Brasil ocorre a mesma tendência: 68% das crianças brasileiras com até 14 anos já sofreram violência corporal em casa.
Dentre as principais violências denunciadas temos negligência (61.416), violência psicológica (39.561) e violência física (33.105).
Mas o que mais assusta é o balanço que a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos apontou: 57% dos casos de violência contra crianças e adolescentes denunciados acontecem dentro da casa da vítima.
Além disso, Um relatório da Unicef diz que, em todo o mundo, uma em cada quatro crianças menores de 5 anos vivem com uma mãe que é vítima de violência por parte de um parceiro. Esse tipo de situação familiar acaba por criar jovens que têm esse exemplo e o seguem na vida adulta. É um ciclo de formação de adultos agressivos sem fim.
Isso foi constatado pelo psicólogo Cezar Siqueira. Ele diz que na maioria dos casos com os quais teve contato, a pessoa que cometeu violência também sofreu abusos na infância, mas que isso não é uma regra. Também diz que não devemos tratar os agressores simplesmente como “monstros”, pois isso reduz eles à uma condição de pouca ou nenhuma resolução. “Dizer que o agressor é um monstro, é matar qualquer possibilidade de resolução. Provavelmente, o agressor está reproduzindo algo da cultura em que vivemos”, diz o psicólogo.
Relato de quem sofreu violência na infância
Daniela, de 35 anos, dona de casa e moradora de Cruzeta, município do interior do Rio Grande do Norte, relata que o pai a agredia desde muito cedo.
“Eu tinha cinco anos e minha mãe já me obrigava a limpar a casa e lavar a louça. Se eu não fizesse as tarefas direito, ela falava para o meu pai e ele me batia”. Por conta da violência, um dos irmãos de Daniela fugiu de casa aos 20 anos.
Além da violência física, ela também relata que sofreu tentativas de abuso sexual dentro de casa. “Meu irmão tentou me assediar quando eu tinha nove anos. Eu contei para minha mãe e ela falou que eu que tinha o induzido. Acabei apanhando por conta disso”.
Daniela saiu de casa quando tinha 21 anos com a ajuda de Carlos, com quem se casou e vive até hoje.
Cuidados que devemos ter
Sempre precisamos estar atentos. Muitos ainda acreditam que não devem se meter em situações de famílias, mas a verdade é que a omissão pode estar contribuindo com a violência doméstica.
Se você ver criança apanhando, acredite: isso não é educação. Mesmo que os mais antigos frequentemente utilizassem desse hábito como forma de educar as crianças, hoje já é comprovado que não há razão para agredir. Na grande maioria das vezes, agressões são acompanhadas de lares agressivos, famílias que não se respeitam e vivem momentos tensos entre 4 paredes. Não devemos nos omitir.
Procure ajuda caso veja situações semelhantes. Crianças podem estar sofrendo abusos dentro da própria casa.
Texto originalmente publicado em observatorio3setor e adaptado pela equipe do blog Educadores.