Penso que todos já fomos traídos um dia, seja por um amigo, um colega, uma promessa, um sentimento, uma pessoa. Traição é uma coisa muito triste, porque fica um sentimento tão imenso de impotência diante do que perdemos, mas tão imenso que nos tira o chão e nos falta o ar.
Fomos traídos porque depositamos no outro toda a nossa confiança, depositamos nossas esperanças, depositamos nossas falhas e acreditávamos que seria eterno. Mas depois que se é traído uma vez nunca mais voltaremos a confiar da mesma forma. Naquela pessoa então, penso que nunca mais. Porque traição não se trata apenas de ir lá e deitar ou beijar ou fazer sexo com outra mulher ou outro homem, traição dos princípios e valores é algo terrível.
Quando somos traídos temos nossos sentimentos roubados, nossa inteligência subestimada e destruída e, superar isso é muito, muito difícil. Superação é poder resgatar todos os pedaços cortados e rasgados do nosso amor próprio que foram ao vento, que ficaram vagando noites e noites sem podermos nos conformar com tamanha falta de caráter do outro.
Ouvimos dizer que quem ama não trai! Mas o que é amar? amar é importar-se, amar é querer que o outro não sofra, amar é não fazer ao outro o que não gostaríamos que ele fizesse a nós. Mas quem disse que amar é fácil? Amar é receber um sentimento divino, amar é estar repleto de sentimentos positivos: afeto, envolvimento, ligação, afeição.
Quando amamos não podemos deixar de lado nosso amor próprio… fácil falar. Muito difícil colocar em prática. Quando amamos é natural termos insegurança e levamos um bocado de tempo para confiar e depositar todas as fichas no outro e, quando acontece uma traição, fica latente aquele medo que sempre esteve lá, bem no fundinho, aquele medo que estava junto com a insegurança. E o pior acontece, uma morte acontece, a morte do nosso sentimento e nós ficamos desnorteados, tentando buscar o responsável, procurando saber de quem é a culpa, vivendo o sentimento de luto, de perda, e dói. Ah, como dói!
O outro aprontou mas o nosso amor continua lá, mesmo ferido, está lá e terá que ser feito todo um processo de desapego, estancar a hemorragia e deixar de amar aquela pessoa. Ficamos marcados a ferro e fogo, e arrastamos nossos sentimentos, outrora tão bonitos, como correntes; arrastamos e levamos para um buraco imenso tudo o que acreditamos e, muitas vezes, o sentimento indigno se apodera, colocando a prova o caráter e a honestidade pois o outro não foi capaz de honrar suas promessas e seus sentimentos.
Se já perdoei? Sim. Perdoei porque achei que não conseguiria viver sem aquele sentimento, perdoei porque tinha esperança de interromper toda aquela sensação angustiante que habitava em meus dias, mas algo tinha quebrado e nunca mais voltou a ser como antes. O sentimento amassou, enrugou, ficou remendado e não resistiu.
Cada pessoa reage de uma forma e só quem passa sabe qual o sentimento que vai se apoderar de nós. Seguir em frente não é fácil mas temos que ter força para almejarmos uma relação melhor, onde deveremos ser respeitados e amados pelo que somos e ficar batendo na mesma tecla é falta de amor próprio.
